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quarta-feira, 19 de novembro de 2014

(Des)Valorização

Sim, faz tempo que não posto nada aqui. tem muita coisa acontecendo na minha vida profissional nesse momento e eu estou achando tudo isso ótimo, é claro! Apesar de cansativo e de ter que abdicar de algumas coisas pra conseguir dar conta do trabalho, eu adoro essa correria!

Mas vamos ao assunto... Essa semana vi duas coisas acontecerem, ambas com o mesmo tema, digamos assim! Artistas que banalizam seu trabalho e por consequência desvalorizam o trabalho dos colegas de profissão.

Diz-se que arte não dá dinheiro, que não é valorizado, que não há incentivo... Ora, como valorizar, incentivar e conseguir lucrar com um trabalho que o próprio artista entrega de mão beijada?

Não sei qual foi o contexto, mas uma amiga de longa data, colega de profissão postou no facebook: "Amigos artistinhas, não desvalorizem o trabalho dos seus colegas. Não prostituam (tanto) a sua arte. Tenham amor pelo próprio trabalho e pelo trabalho do próximo. Faz bem pra todo mundo!" 
Pouco tempo depois (em notícias não relacionadas a essa postagem) soube que um grupo de teatro teria oferecido seu trabalho gratuitamente para uma empresa que fazia cotações com vários grupos para a realização de sua SIPAT. Aí eu pergunto: dá pra concorrer com gratuidade? Se o que o contratante quer é economizar (como acontece na maioria das vezes), qualquer grupo que ofereça o seu trabalho por qualquer valor por mais em conta que seja, não tem chance contra um grupo que "dá de graça". E então, por mais que o contratante possa se arrepender caso o barato (ou o de graça) tenha saído caro demais, a cagada já está feita! O grupo em questão banalizou seu trabalho e os outros grupos deixaram de realizar um trabalho que manteria sua sobrevivência.

Começo a pensar que o que falta pra alguns artistas é se amar mais! Se valorizar pra ser valorizado! Saber cobrar pelo seu trabalho que em hipótese alguma sai de graça. Afinal, no mínimo é preciso gastar com alimentação e transporte e isso certamente sai do bolso de alguém.

Volto a dizer o que já disse em alguma outra postagem: Caros artistas, colegas de trabalho, colegas de sofrimento da profissão... Se dê o devido valor, se respeite, se ame! Caso contrário ninguém fará isso por você! Não reclame de falta de dinheiro se não sabe cobrar! E por fim, não puxe o tapete do colega porque você percorre o mesmo caminho e lá na frente, mesmo que na ponta do tapete, quem pode cair é você!

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Valores

Quanto um ator deve receber por seu trabalho? Qual é o valor considerado justo? Na minha opinião a resposta dessas perguntas é: "Depende! São muitas variáveis!" Explico...

Acontece que cada montagem, e muitas vezes cada apresentação, é única! Se um espetáculo é bem vendido sendo possível pagar um cachê gordo pros atores, ótimo! Mas se não, cabe ao responsável repassar o valor que considerar condizente com o trabalho. Sim, tem muito pilantra no mundo que aproveita pra ganhar dinheiro em cima do trabalho dos atores sim, mas o que parece que as pessoas não entendem é que se um ator aceita, pelo motivo que for, fazer um trabalho por um determinado valor, não adianta chorar depois!

Ah, mas existe a tabela de piso salarial do SATED. Existe sim! Mas o que você prefere: ter frequência de trabalho por um valor que pode estar abaixo da tabela ou trabalhar uma vez por ano e ganhar o piso? Fica difícil pagar o valor sugerido pelo SATED quando a arte não é valorizada. É isso que eu percebo que alguns atores não conseguem entender! A tabela é válida e deve ser levada em consideração, mas sem meios pra isso, fica difícil!

Me lembro dos oito anos que fiz de teatro em Santos... Não recebia cachê por apresentação, não tinha ajuda de custo pra ensaio, figurino e cenário eram pagos com uma grande vaquinha feita entre o elenco e direção. Vim pra São Paulo, passei a receber pelo meu trabalho e aos poucos fui aprendendo a lidar com isso. Nunca reclamei de um valor pago por um simples motivo: eu aceitei! Eu sabia das condições e topei, então não posso reclamar! Se estivesse insatisfeita, (como já estive) procurava outra coisa que me pagasse melhor e então simplesmente me afastava.

Não estou dizendo que ator tem que aceitar ganhar qualquer coisa, não, muito pelo contrário! Precisamos receber o que é nosso por direito. Mas caramba, gente! Você aceitou apresentar um espetáculo ganhando R$50 e sabia disso desde o começo? Algum motivo você deve ter tido. Então me explica porque de uma hora pra outra isso passou a não ser o justo pra você. Resolveu se valorizar ou alguém enfiou caraminholas na sua cabeça te fazendo mudar de ideia? Veja bem, você não precisa aceitar ganhar esses R$50 pro resto da vida, mas à princípio foi o que te ofereceram. Pode apostar que devem ter tido motivo pra te oferecerem esse valor.

E quando um ator ganha, sei lá, R$1.500 por apresentação e de repente passa a achar isso pouco. Estrelismo não gente, façam-se esse favor!

Enfim, perdoem o desabafo... Só acredito que "valores" dependem de variáveis para ser definidos e a partir do momento que se assume um compromisso você deve honrá-lo. A maioria de nós atores trabalha como freelancer e depende de conseguir pegar um trabalho e ganhamos pouco sim, infelizmente é uma realidade. Mas saibam valorizar o que vocês ganham, quer achem muito ou pouco.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Teatro e dinheiro combinam?

Dia desses recebi um e-mail pelo meu site de uma estudante de Artes Cênicas de uma universidade pública do Sul do país. Ela dizia que antes de chegar à faculdade, havia feito um ano e meio de oficinas de teatro, em duas escolas diferentes, nada muito profissional. E agora que está chegando ao segundo ano de faculdade começou a ter dúvidas com relação ao que eu realmente quer. Ela começou a pensar e se preocupar muito com a parte financeira da coisa. Disse que no início não se importava com isso, mesmo que fosse preciso passar fome para fazer teatro, mas sua visão mudou. Hoje ela almeja ter uma vida financeira estável, que possibilite viagens e bens materiais e escreveu o e-mail para saber basicamente se: "É possível um brasileiro fazer parte de alguma companhia de teatro conhecida na França, Portugal ou algum país da Europa? Se for possível, eu imagino que a pessoa precise ralar muito, mas é possível?"

Puxa! Deve-se imaginar a minha cara depois de ler esse e-mail, não? Como responder dando minha opinião sem interferir diretamente na decisão de uma pessoa e ao mesmo tempo esclarecendo a dúvida com base na minha pouca experiência? Não sei se fiz certo, mas o que respondi foi: "De fato, viver de arte em geral (não só de teatro) no Brasil não é nada fácil. Inclusive, viver de teatro, especificamente, não é fácil em lugar algum. Tem-se a ilusão de que em alguns outros países a arte seja mais valorizada, mas o fato é que são poucos os sortudos e verdadeiros amantes do teatro que conseguem sobreviver única e exclusivamente do teatro. Sou atriz desde 2001 e assim como você, nunca tive e continuo sem ter, a menor intenção e/ou vontade de ir pra televisão. Há lugares com mais campo, vamos dizer assim, onde há mais possibilidades de trabalhar com o teatro. São Paulo (Capital), por exemplo, que é onde resido hoje. E mesmo que aqui, supostamente, tenha um campo mais amplo, ainda é muito complicado conseguir trabalhar e viver só de artes cênicas. Há muita competição, muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e muita sujeira também, não há porque negar esse fato. É preciso se dedicar e ralar muito, mas muito mesmo pra vencer com o teatro (na realidade, com qualquer tipo de arte). Eu sou uma artista e se não fosse o teatro, hoje eu estaria em qualquer outra área artística. Sou da arte e já me conformei com o fato de que se quiser continuar fazendo arte terei de abdicar de certas coisas, talvez trabalhar com qualquer outra coisa com um horário de certa flexibilidade pra que possa dedicar meu tempo livre à minha paixão e, certamente, passarei algumas dificuldades inerentes à profissão. São coisas da vida e a vida é cheia de escolhas. Não se pode ter tudo. Mas se o teatro é o que você realmente quer pra sua vida, só você mesma pode dizer. E se quer aceitar essa profissão em sua totalidade, com seus prós e contras, também só você pode decidir. Mas pense que hoje em dia nenhuma profissão é "segura". Tudo muda muito rápido, as coisas acontecem muito rapidamente hoje em dia. Hoje você está bem, tem um emprego estável e uma profissão que te possibilita uma carreira promissora e amanhã pode não ter nada disso."

Dito isso, quero acrescentar aqui o que acredito serem alguns dos vários fatores pelos quais é difícil ganhar a vida com o teatro: a falta de hábito das pessoas, a comodidade trazida pela televisão (sim, porque é muito mais fácil sentar a bunda no sofá e assistir uma novela com tema batido do que sair de casa e ir até o teatro pra assistir à um espetáculo que te faça refletir. Pra que pensar se é possível ter tudo mastigado?); os valores, de certa forma também (tem gente que gasta R$100 numa balada de sábado a noite, mas não quer pagar R$20 num ingresso de teatro, mas se tiver um global pagam sem dó) e por último a falta de incentivo. Mas há leis de incentivos, Hellen! Há, há sim! Mas até conseguir um deles, você já desistiu de fazer teatro (Obs.: Se tiver um QI se consegue rapidinho!). E há ainda uma pequena parcela de "profissionais" do ramo que conseguem ganhar dinheiro e fazer a vida com o teatro, mas como? Simples... Lucrando em cima do trabalho dos outros, normalmente dos atores que ganham uma merreca de cachê.

Enfim... Só quero dizer que viver de arte é muito difícil, mas não é impossível. Ou pelo menos não deveria ser! Infelizmente a preocupação com as contas nos persegue, tudo gira em torno do dinheiro, da necessidade de se ganhar dinheiro... E muitas vezes isso nos impede de fazer (e ser) o que verdadeiramente queremos.

Pra encerrar, deixo um pensamento sobre isso: "O que você gosta realmente de fazer? O que você faria se o dinheiro não existisse?". Pense a respeito!